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terça-feira, 7 de setembro de 2010

FOFOCA ALHEIA

BARBARA GANCIA


COLUNISTA DA REVISTA sãopaulo



Marília Gabriela anda me perseguindo. Na outra sexta-feira, na pele de Marcelo Médici, ela ficou me fitando com aquele seu olhão assinado pelo dr. Pedro Albuquerque e fazendo bico para mim lá de cima do palco do antigo Palace de Moema. Não estou de brincadeira. A Gabi, com aquele vozeirão que parece vir das profundezas do poço onde estão presos os mineiros chilenos, tomou a estrela do espetáculo de teatro "Cada Um com Seus Pobrema" como "cavalo" e resolveu me encarar.



Compartilho da voz de travesti velho da Gabi e sei que, como eu, ela também sofre na hora de pedir Disk Cook. "O senhor vai pagar em cheque ou cartão?" Que "senhor" do Egito? "Aqui quem fala é Marília Gabi Gabriela. Você é meu entrevistado de hoje e eu gostaria de saber: seu problema é excesso de cera nos ouvidos?"



Certa vez, Gabi contou-me que adora ficar hospedada no Copacabana Palace porque a recepção já atende dizendo: "Pois não, dona Marília?", lá nunca tem esse tipo de confusão.



Estou convencida de que Gabi transborda charme por todos os poros. Só não acredito que ela exerça a mesma profissão, digamos, que o William Waack. Apesar de toda sua tarimba, creio que ela tenha se aposentado do jornalismo mais ou menos na mesma época em que o ditador líbio Muamar Gaddafi se apaixonou perdidamente por ela. Gabi um dia deveria contar essa história, que é divina. Como são quase todas as que envolvem a apresentadora. Imagine que, certa vez, eu me encontrei jogando mímica na casa dela com Camille Paglia... E a Gabi ganhou da Camille! Está pensando que é moleza?



Ocorre que, nestes últimos tempos, tenho tido cada vez mais dificuldade em separar a apresentadora da imitação. Depois de anos repetindo o mesmo formato, finalmente ela está pagando pela inércia. Sempre ligada no piloto-automático, há anos não faz a lição de casa antes das entrevistas, não se prepara como jornalista para sentar diante do entrevistado. Entra no ar confiando nas fichas com as perguntas que colocam na sua frente e no frescor de seu talento de atriz.



"Ronaldo, diga-me, como é que você se avalia? Você se olha no espelho, sabe como é por dentro..." ou "Willian Bonner por William Bonner". Alguém ainda liga para esse truque?



Hoje em dia, é mais fácil que uma grande pedra role serra do Mar acima, percorra vários quilômetros pela rodovia dos Imigrantes e venha nos atingir em cheio na cabeça do que um programa dar certo na TV Cultura.



E algo me diz que o "Roda Viva" da Gabi, que estreou na segunda passada, não será exceção. No momento em que a apresentadora perguntou sobre a peruquinha do seu entrevistado, eu disse "agora vai, agora essa entrevista pega fogo!". E Eike Batista ainda revidou: "É cabelo mesmo, Marília, pode tocar!".



Diante de um convite dessa natureza, qualquer jornalista do cosmos teria se pendurado no interlace do bilionário, para ver se ficava com o topete na mão.



Que tipo de sujeito usa uma peruquinha tão merreca? E por que o homem mais rico do Brasil, primeiro convidado do programa, nega que usa peruca? Esse não é o mesmo senhor a quem Luma trocou pelo bombeiro? Neste contexto, a peruca não ajuda a explicar melhor a personalidade do entrevistado?



Nada disso passou pela cabeça de dona Marília. Eike pediu que ela tocasse seu "cabelo" e a apresentadora "tomou Activia": "Não, obrigada, Eike". Como se estivesse ali apenas batendo um papinho descompromissado...

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